Fundação
A linguagem foi, originalmente, o expediente por meio do qual o Homem aprendeu, imperfeitamente, a transmitir os pensamentos e emoções do seu espírito. Erigindo sons arbitrários e combinações de sons como representação de gradação de cores mentais, desenvolveu um método de comunicação, porém um método que, na sua inabilidade e pesada inadequação, fez degenerar toda a delicadeza do espírito numa transmissão grosseira e gutural de sinais.
Os resultados podem ser seguidos profundamente e todo o sofrimento que a humanidade conheceu pode ser avaliado apenas pelo fato de nenhum homem na história da Galáxia até Hari Seldon, e muito poucos homens depois dele, ter conseguido compreender realmente outro homem. Cada ser humano vivia atrás de uma parede impenetrável de névoa sufocante, dentro da qual ninguém mais existia senão ele. Havia, ocasionalmente, os sinais sumidos das profundidades da caverna em que o outro homem estava metido, de modo que cada um podia caminhar às apalpadelas na direção do outro. Contudo, por não se conhecerem uns aos outros, não poderem compreender-se uns aos outros, não ousarem confiar uns nos outros, e sentirem desde a infância os terrores e insegurança desse isolamento definitivo, havia o medo da perseguição do homem pelo homem, a rapacidade selvagem do homem para com o homem.
Isaac Asimov, Segunda Fundação.