PETAR
Fim de semana emocionante. No sábado de manhã fomos eu, Maja (a croata que esteve morando com a gente por dois meses, fazendo intercâmbio em Sanca) e a Stéfanie (a vizinha) para o PETAR, a convite do Sinfa. Saímos bem cedo de São Carlos, cinco da manhã, passamos por São Paulo para encontrar o Sinfa e a namorada dele, e depois vamos em direção ao parque. Que, como fica na região sul de São Paulo, é longe pra dedéu. Chegamos lá só às quatro e tanto da tarde.
Mas já chegamos preocupados. Ao sair de São Carlos o tempo estava quente, chegando em Sampa chovia, e quanto mais para o sul íamos, mais a chuva castigava. E, ao chegar no PETAR, ela não tinha parado. Péssimo sinal, tínhamos poucas roupas para frio, e estávamos indo para o núcleo mais isolado e selvagem do lugar, o Caboclos.
Depois de sacolejar por mais uma hora em estradas de chão batido, chegamos ao local do acampamento. Várias cabanas, mas todas reservadas para pesquisadores. Vamos dar uma olhada no local do camping, e meus ossos já ficam gelados só de imaginar como vai ser a noite...
Eu e a Maja montamos rapidinho a barraca onde eu, ela e a Stéfanie vamos dormir, e depois vamos ajudar o Sinfa a montar a dele e da namorada (que, por sinal, é bem maior). Mais uns 20 minutos, e estamos suficientemente ensopados para começar a amaldiçoar a viagem. Ah, que vontade de estar em casa, assistindo a um filminho e comendo pipoca...
Mas como diz o sábio, já que tá que vá. Jantamos, e quando começamos a nos ajeitar para dormir, percebemos que a nossa barraca não é tão impermeável assim. Começamos a discutir seriamente a possibilidade de seguir viagem e ir para Curitiba. Mas antes que a situação piore, vamos todos para a barraca do Sinfa, e lá jogamos um pouco de truco antes de ir dormir (eu e Maja ganhamos, apesar de eu quase nunca jogar e de ser a primeira vez dela jogando =] )
No domingo de manhã somos acordados pela chegada do guia, mas a vontade de sair da cama era nula. Eu e a Stéfanie já tínhamos idéia de onde nos metemos, e somos contra seguir com a trilha planejada, até porque demoraríamos demais para ir embora e chegaríamos muito tarde em São Carlos. Mas a Maja ainda achava que seria uma trilha bem aberta e tranquila, com uma caverna acessível. Como eram 3 votos contra 2, vamos todos fazer a trilha.
Como eu sou um simplório, me diverti horrores. Cada vez que eu escorregava e caia na lama eu dava risada, possivelmente pela insanidade da coisa. E situações dessas são ótimas para deixar o humor negro e a ironia aflorar, então eu e a Stéfanie estávamos impossíveis. Pena que o guia não entendia metade das piadas que a gente fazia.
Aliás, o guia. Ele fez curso técnico em mecatrônica, mas enquanto não arranja um emprego trabalha no PETAR como guia. Ele deu umas explicações que deixariam cientistas de cabelo em pé (destaque para o Bagre Cego), mas era gente fina. E comentou, em certo ponto, que achou que nós seríamos um grupo de aventureiros experientes loucões, por querer ir na chuva na trilha mais difícil do parque. HAH! Um computeiro, uma croata que nunca viu mato na vida, e uma anêmica? Loucos com certeza, aventureiros contra a vontade, mas experientes nunca...
Depois de três horas de muitos tombos, arranhões e lama, chegamos até a caverna. Para descobrir que não podemos entrar, porque o rio está muito alto. Sem muitas opções, começamos a volta, agora por outro lado. Atravessamos o rio duas vezes (na segunda, muita correnteza), subimos uma encosta íngreme auxiliados por cordas, e cada vez mais me sinto um escoteirinho. O guia não está dando muita bola, mas a Maja e a Stéfanie estão exaustas, e várias vezes tenho que ajudá-las a atravessar alguns pontos. Aliás, é admirável a calma do guia: em vários pontos um escorregão levaria a uma queda beeeem horrenda, pelo menos uns 30 metros rolando ribanceira abaixo, e ele nem aí.
Perto do fim, a coisa está realmente feia. Maja desesperada porque vai ficar doente (err, e realmente ficou...), Stéfanie com hipoglicemia, Leandro e namorada um pouco mais atrás de nós. E eu? Sei lá de onde, mas ainda com energia para seguir adiante. Que dizer, sei sim, mas isso é assunto para outro post. Por mais que tenha sido uma roubada, que a gente tivesse que tomar banho frio logo depois (energia elétrica? pfff), que tívessemos que voltar para Sanca dividindo o único par de tênis limpos, eu estava me divertindo. Nada melhor do que rir de nós mesmos =D
Na segunda nem consegui ir trabalhar, foi muito difícil simplesmente sair da cama. Acho que a adrenalina da hora não deixou perceber que eu estava me estropiando todo.
Portanto, recomendações: Se for ao PETAR, comece pela caverna de Santana, e depois se arrisque nas mais selvagens. Vale a pena, mas evite ir na chuva! =D
UPDATE: já que tive um comentário ilustre por parte da Stéfanie, fique explicado que:
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Ela ajudou a pregar no chão e a por a cobertura. Portanto, ajudou na montagem da nossa barraca.
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Sim, eu fiquei a maior parte do tempo atrás dela. Ou seja, não fui de muita ajuda para ela (só quando ela escorregava e quase caia no chão, já no final da trilha). Ah, e também quando ela tava com hipoglicemia, servindo Negresco e dando apoio. Portanto, meu lado escoteirinho auxiliador apareceu mais para a Maja e, às vezes, pra namorada do Sinfa.
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E ela sabe muito bem de onde eu tirei energia =]